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ARTE NA GUERRA E GUERRA NA ARTE

Uma entrevista com um ex-militar que também é artista.

Quando pensamos em exército, automaticamente associamos à rigidez que existe nos quartéis. E não é para menos. O ofício militar exige força física, disciplina e bastante resistência. Mas, será que dá para imaginar um militar com todas essas características e, ao mesmo tempo, sensibilidade artística?


O quadro “Especiais” deste mês conversa com Fábio Santos, um ex-militar do Exército Brasileiro que também é artista.



Aos 45 anos, Fabio Santos hoje trabalha na Guarda Municipal de Laranjeiras. Ele abriu as portas da sua casa para uma conversa com o PBDestaque. Na entrevista, dentre outros assuntos, ele nos fala um pouco da sua experiência como militar, e conta como isso o influenciou na sua arte.


Fabio conta que desenha desde criança. Teve uma infância humilde e isso o influenciou no gosto pela arte.


“Não tinha brinquedos, então tinha que procurar alguma coisa que pudesse fazer para me divertir”.


Ele ingressou no Exército Brasileiro aos 17 anos, onde atuou na floresta amazônica. Essa experiência como militar durou dois anos. Fabio conta que este foi um período de dificuldade, mas de bastante aprendizado.


E foi essa experiência que o influenciou na sua arte. Fabio conta que a infância humilde e o período no exército fizeram com que tivesse uma sensibilidade maior. Ele ressalta que no Exército a vida se torna difícil e você precisa sobreviver com poucos recursos. E ele buscou retratar tudo isso, através da pintura.


Para Fabio, é necessário sair da zona de conforto. Sair do óbvio. Em 2013, Fabio ganhou em segundo lugar a Exposição Salão dos Novos, em Aracaju com a obra “Reflexos do Mundo”. A figura de uma mulher negra, excessivamente magra, amamentando o filho. A mulher aparece por trás de uma cerca de arames farpados, enquanto diversos espelhos emolduram a obra.


Ficou impactado? É nesse ponto que Fabio quer chegar. O impacto. Na sala principal da sua casa, é fácil notar a quantidade de quadros espalhados pela parede. São figuras tristes. Parecem afetados pelas mazelas do mundo, principalmente as causadas pela guerra. Nos quadros, Fabio mostra os dois lados da moeda. A experiência como militar pode ser vista em quadros onde aparecem soldados, sozinhos ou ajudando civis. Em outras obras, a dor de quem sofre com a guerra.


“Existem muita injustiça e desigualdade no mundo e eu busco retratar isso nas obras justamente para impactar”.


Pintar imagens bonitas, paisagens e animais é até bom e bastante fácil. Eu saberia fazer com perfeição. Mas prefiro causar um impacto e até certo incômodo. Fazer refletir sobre aquilo que está no quadro. Gosto que as pessoas olhem a obra e saiam com um pensamento diferente. Ressalta.


Apesar do gosto e talento pela pintura, não faz dela um meio de vida. Para Fábio, a arte pode ter cunho social e transformador. A arte pode ser utilizada na luta contra diversos problemas socioculturais que afetam a comunidade.


Nós vivemos num bairro onde há muita violência. Acredito que a arte poderia ser um agente transformador. Quantos jovens deixariam de estar no mundo das drogas e do crime, se tivessem acesso à arte e à cultura? O problema é que não há o menor interesse dos nossos governantes em proporcionar isso aos jovens do bairro. Afirma.


Fabio sugere criação de uma escola de arte em Pedra Branca. Esta escola estaria voltada para o ensino de teatro, música, dança e pintura. O artista acredita que a arte em si tem grande força, porque assim como esporte, é acessível e fala direto com a comunidade. E é esse caminho que devemos seguir, não deve ser o único, mas seria um começo, para que tenhamos cidadãos melhores no futuro.


E antes de terminarmos a entrevista, Fabio se dispôs a estar junto com este blog para levarmos esta ideia adiante. Aguardem.



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